Num primeiro momento, a posse da propriedade; num segundo, a posse da futura esposa. Sem maiores considerações, pouco importa sua vontade quanto ao casamento. O que confere autenticidade ao discurso e o tom imperativo que apenas é retrucado pelas submissas respostas de Madalena.
E conforme o romance avança, as diferenças entre ele e sua esposa serão cada vez mais acentuadas. Se pela perspectiva de Paulo Honório existe a vontade flagrante de “corrigir” aquilo que foge ao seu poder de dominação e anulação, Madalena age na trama de maneira justamente inversa. Ele é bruto; ela é compreensiva. Ele agride os empregados por motivos mesquinhos; ela compreende a injustiça de tais agressões.
E isso incomoda e perturba o espírito de Paulo Honório. Como ele mesmo diz, passa por essas atitudes a sentir ciúmes da própria esposa. A razão para tanto é que Madalena não se submete à sua vontade, que é, em último caso, transformá-la em coisa, objeto manipulável. E Madalena resiste e não demonstra interesse em ceder.
Madalena, ao não se sujeitar, gera ciúmes em Paulo Honório, justamente por não se considerar propriedade – e a idéia de ciúmes passa pela idéia de força, pois ela é capaz de fugir da sua imposição de superioridade do marido. E isso é, para ele, uma afronta. Dessa forma, “São Bernardo” unifica-se em todos os seus níveis pela existência do direito de propriedade, o que é, para Graciliano Ramos, o direito de mando.
Madalena tenta, mas são forças que transcendem sua vontade. Morre e com a morte da esposa, Paulo Honório parece perceber a dimensão da própria loucura. A impotência toma conta do seu corpo. Ele não anda por entre os cômodos da fazenda – suas pernas carregam-no. Apenas o relógio na parede corre à revelia, e o tempo parece soterrá-lo.
Já na Terça dia 09 – foi a vez do filme Quantum Off Salace, Finalmente a franquia 007 voltou a ser de filmes legais, muita ação, carros destruídos, vilões plausíveis, tiros e o Bond além de não falar o bordão ( "Meu nome é Bond... " ) ainda fica com o cabelo despenteado e com a cara cheia de cicatrizes o tempo todo.
Diversão garantida. E e claro que o exagero hollywoodiano não poderia faltar .OO7 é traído por Vesper, a mulher que amou, ele luta contra o impulso de tornar pessoal sua última missão. Em sua determinação de descobrir verdade, Bond e M interrogam Mr. Withe que revela que a organização que chantageou Vesper é muito mais complexa e perigosa do que seria possivel imaginar. Informações forences vinculam um traidor do Mi6 a uma conta bancária no Haiti, onde um erro de identidade apresenta a Bond a bela e agressiva Camille, uma mulher que já possui sua vendeta particular. Camille leva Bond diretamente a Dominic Greene, um empresário cruel e importante peça da misteriosa organização.
E na quarta, último dia do evento, a exibição contou com o filme "Romance".. Os elementos amor, paixão, traição e sofrimento, presentes o tempo todo no filme, não são apenas comuns nas novelas do cotidiano mas também na literatura mundial de todos os tempos. E mesmo que muitos nunca tenham ouvido falar em “Tristão e Isolda”, a tragédia não soa pesada nas mãos de Guel Arraes, que desenvolveu o roteiro com Jorge Furtado.
Os protagonistas são artistas de visões diferentes: Pedro é cria de teatro, e é nele que se sente em casa, em São Paulo. Ana se curva aos encantos da popularidade que a produção de uma novela, no Rio, lhe dá enquanto dá vida a sua Isolda numa montagem de Pedro. Cidades e visões diferentes de futuro se misturam a ciúme, insegurança… e este é apenas o início da história. Eu receava pelo final, mas foi resolvido da melhor forma.
Numa fase em que a grande maioria dos (ótimos) filmes brasileiros é densa, “Romance” tem uma leveza que para alguns pode até parecer incompatível com a tragédia literária que guia o roteiro – e que salva o filme de se tornar hermético para o grande público: não há dificuldades de entendimento e a empatia é imediata. O elenco é um grande acerto: a ótima Letícia Sabatela mostra-se mais ousada, José Wilker está no tom certo, e Vladimir Brichta mostra grande talento sem cair na armadilha da caricatura e sem perder a graça.
Três destaques abrilhantam o longa. Brilham Andréa Beltrão – voando alto e bem longe de seus personagens mais recentes da TV – e o grande Marco Nanini, em participação pequena mas arrebatadora. Mas é Wagner Moura que merece todos os louros: está soberbo em um difícil papel onde Tristão é apenas um dos múltiplos personagens em que o artista ao mesmo tempo se afoga e se salva. Mais uma vez, o espectador que não tem o costume de ir ao cinema – e que somente viu “Paraíso Tropical” (na TV) ou “Tropa de Elite” (no boom da polêmica e da pirataria) – vai se surpreender com a versatilidade e o talento transbordante deste grande ator. Recomendo!
Veja imagens dos filmes: