segunda-feira, 16 de março de 2009

As "barrigadas" da mídia brasileira, o caso Paula de Oliveira




Na semana que passou, um dos assuntos que dominaram o noticiário aqui no Brasil foi o caso da suposta agressão sofrida pela brasileira Paula Oliveira, na Suíça. Seria mais um daqueles casos clássicos de xenofobia explícita, não fosse a rápida ação dos legistas suíços que afirmaram que Paula Oliveira, provavelmente se autoflagelou e não estava grávida de gêmeos, como alegou às autoridades policiais da Suíça ao ser atendida após o suposto ataque.

Paula disse que foi agredida por um grupo de skinheads simplesmente porque vinha pela rua falando em Português (via celular) com sua mãe que mora em Recife. Ataques de skinheads acontecem não só na Europa. Aqui no Brasil, principalmente em São Paulo, os skinheads (geralmente filhos de nordestinos que imigraram pra lá nos anos 70) atacam, acredite, nordestinos e também gays. Além da xenofobia há também preconceito neste tipo de ataque. Mas no caso de Paula Oliveira, tudo leva a crer que era mentira. E mais, o suposto ataque levou as autoridades brasileiras, movidas pelo noticiário da Rede Globo, a quase abrir uma crise diplomática com um país considerado “amigo”.

O que a Globo fez é chamado no jargão jornalistico de “barriga”. E, pelo jeito, foi a maior das “barrigas” já cometidas pela maior rede de TV do Brasil. Até o momento, nem Paula Oliveira, nem seu pai — que desesperado com a notícia do ataque sofrido pela filha voou para a Suíça — conseguiram provar a suposta gravidez. Contra Paula estão as evidências médicas afirmando que a gravidez, pelo menos no dia do suposto ataque, não existia. E também um laudo de um legista que afirma categoricamente que os ferimentos foram provocados pela própria brasileira.








Depois que estas informações foram divulgadas, o caso tomou outro rumo. As autoridades brasileiras, que já estavam em “pé de guerra” com a Suíça, se acalmaram e suavizaram o tom do discurso. A Globo mudou o foco editorial das reportagens de Marcos Losekann, enviado a Zurich para cobrir o caso. E, se tudo for confirmado, Paula poderá ir para a cadeia e a Globo vai guardar em sua história, uma “barriga” a ser eternamente lembrada nas salas de aula das faculdades de jornalismo brasileiras.

No site Observatório da Imprensa, a “barriga” da Globo mereceu uma análise profunda, escrita pelo jornalista Rui Martins, direto de Berna, na Suíça. O texto é primoroso e explica como “um jornalismo irresponsável mobilizou o país, levou o ministro das Relações Exteriores Celso Amorim a criticar um país “amigo” e o presidente Loola da Silva a quase criar um caso diplomático“.




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